Janelas para a vida
Inocentes ou culpados?
Alejandro Bullón
Salvou-se a nossa alma, como um pássaro do laço dos passarinheiros;
quebrou-se o laço, e nós nos vimos livres. Sal. 124:7.
Ela era jovem e linda. Não devia ter mais de dezesseis anos.
Jovem demais para chorar. Adulta de menos para enxergar as trapaças da vida.
“O que o senhor me aconselha? Hoje à tarde meu namorado
bateu em mim, diante de muita gente”, disse ela chorando. “Eu sei que devo
deixá-lo, mas gosto dele.”
Ela não precisava de nenhum conselho. Lutava consigo mesma.
Com os seus sentimentos. Enganava-se ao justificar que aquilo tinha sido apenas
um “momento de raiva”, mas que no fundo ele era bom.
Nosso próximo encontro aconteceu dezessete anos mais tarde.
Não era mais jovem, nem linda. Estava destruída pela dor e o sofrimento que
carregara como uma cruz ao longo de anos. Agora já estava separada do marido
que, por muitas vezes, a golpeara.
Dizer o quê? Que ela sabia o que a esperava se levasse
adiante aquele relacionamento? Seria cruel. Para que abrir mais as feridas que
havia tanto tempo sangravam?
No verso de hoje, o salmista louva o nome de Deus por Suas
obras de justiça e libertação. Jesus veio a este mundo e quebrou o laço que nos
amarrava. Esses laços não são apenas exteriores. As verdadeiras arapucas estão
dentro de nós mesmos, e não queremos reconhecê-las.
Com frequência, dizemos que fomos enganados. Consideramo-nos
vítimas. Os culpados de nosso sofrimento quase sempre são “os outros”. Enquanto
não nos livrarmos dessa maneira ingênua de pensar, dificilmente seremos
felizes. O poder do evangelho não se revela apenas nos fatos extraordinários
que Jesus pode fazer com os nossos inimigos externos, mas no que Ele está
disposto a fazer dentro de nós mesmos.
Jesus veio libertar-nos da “ingenuidade”. Ele chega à nossa
vida para abrir os nossos olhos, a fim de que possamos ver a realidade da vida
e paremos de “fazer de conta”, enganando-nos e iludindo-nos por vontade
própria.
Este é o valor do ensinamento bíblico. Tira o véu, ilumina o
caminho, abre a janela do coração escuro para que entre a luz e tomemos
decisões e tenhamos atitudes sábias.
Basta de nos sentirmos vítimas, porque “salvou-se a nossa
alma, como um pássaro do laço dos passarinheiros; quebrou-se o laço, e nós nos
vimos livres”.
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